segunda-feira, 19 de outubro de 2009

RIP

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Sim, é triste
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Enterrar flores.
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Mas é mais triste
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Regá-las mortas.
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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Ponto pra fuga

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[Porto Alegre, RS - imagem: Edna Regina Hornes]
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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Continho em Si Maior

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Para Si
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Quando se apaixonava ouvia sons musicais. Róseos acordes bemóis. Mas não se dava conta disso. Quando o conheceu, o mundo ficou então mais colorido e sonoro, só que a vida dela deixou o pianíssimo de lado para alternar-se entre staccatos e quiálteras de um relacionamento um tanto conturbado. Se dependesse dela, tudo pra eles seria permeado pelo alegretto giocoso e romântico, enquanto que para ele a manutenção do namoro estava alicerçada num agregado sonoro bem intervalado e na liberdade do ad libidum dos intérpretes afetados. Aí começou o adágio dissonante e decrescente.
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Tempos depois, após o fim dessa pequena sinfonia a quatro mãos (e sem direito a bis), veio a prova de fogo. A noite era chuvosa. Ela estava entre amigos. Ele também. Encontraram-se por acaso, e, entre sushis e wasabi, o som que ela ouviu foi de desafino. Notas desconfortáveis e polifônicas, sem cadência, ensaio atonal de orquestra crescendo para um fortíssimo pulsante e furioso. Desse jeito, a noite tinha tudo pra terminar num melancólico noturno. Ali mesmo, no entanto, a música foi outra. Tudo porque ela havia resolvido seguir outros sons e experimentar um novo estilo. Partiu pro rock e pros solos de guitarra. Foi quando descobriu que não havia mais bemóis. Tinha se tornado Si Maior.
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E ele ficou lá... babando semicolcheias.
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Conheça uma outra versão desta história clicando aqui.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Finito

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Ô, dia!
Dia de nada
Dia sem dia
Caixa vazia!
E ainda assim
Menos um dia.

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segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Pomplamoose

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Quem já conhece vai concordar comigo: a dupla Nataly Dawn e Jack Conte (que formam a Pomplamoose) são músicos versáteis e de bom gosto. Fui "apresentada" através de uma dica do Sidnei, que sempre tá antenado. Adorei de primeira e, desde então, sempre fico fuçando o Youtube atrás de vídeos deles. Deixo abaixo "Nature boy", uma amostra super bonita da dupla, postada por eles dia 16 de agosto passado:
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Se quiser ouvir/ver um pouquinho mais, deixo mais 3 músicas que adorei: "Le commun des mortels", doce e linda principalmente pelos arranjos e edição (esta formidável); a xuxu "La vie en rose", que dá vontade de sair dançando esvoaçante; e "Mrs. Robinson", que foi o primeiro vídeo que vi deles. Percebe-se que eles não estão pra brincadeira, embora rolem de rir com isso.
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Obrigada, Sidnei.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

De volta?

Queridos,


Depois de tanto tempo longe do blog, estou aqui, batendo meu cartãozinho saudoso. Estive fora por tanto tempo, por tantos motivos... eu me formei, viajei para o Paraná para visitar a família, de quem sinto tanta falta...

Falando em Paraná, foi tão bom estar lá! Que saudade da minha linda Castro. Fiquei tão feliz em rever cada cantinho daquela cidade que se cuida tanto. Tá tão bonitinha, pintadinha, limpinha, caprichosinha... e os lugares tão pitorescos, atraentes, aconchegantes. Fiz tanta coisa legal! Fiquei com meus familiares, revi amigos, pesquei lambari (viu, Siane, também pesco!), fui no Sete Gatos, passeei nas praças, relembrei bons momentos do meu passado.
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Nossa, amei muito ter revisitado os recôndidos da memória, rememorado os lugares do meu coração. Deixo uma foto (que também está no meu Orkut), pra vocês terem uma leve ideia da belezura de Castro.

[Praça do cinema - Castro, PR - Imagem: Edna Regina Hornes]

Até logo!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Prova de recuperação

Sempre achei que nos dias nublados o verde é mais verde. E como gosto de verde, gosto também dos dias nublados.
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Hoje o dia está especialmente cinza. Verde, logo. Esta manhã se preparou para compensar (e quem sabe para simbolizar) toda a noite insone a pensar em O Ensaio sobre a Cegueira e na minha própria... a cegueira da vida, a cegueira dos passos mal dados, a cegueira dos que põem tanto a perder. Bem, essa cegueira pouco tem a ver com a cegueira de O Ensaio, mas é fato que uma cegueira leva a outra ou, ao menos, torna-nos conscientes dela. De qualquer forma, o nubladinho choroso estava ali e me veio como a chuva cândida e santa, a consolar o choro chorando junto, e marcado com pinceladas daquele verde de que tanto gosto: o verde dos que esperam.
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A manhã se abriu assim tão especial porque o dia é especial: meu último dia de UFRGS, último compromisso como graduanda, última(?) visita ao olímpico Campus do Vale, minha última prova. E prova de recuperação! O nome não poderia ser mais adequado, porque finalmente fui apresentada ao Saramago, e isso não é coisa de que se recupere assim tão facilmente. Esse autor foi o melhor ponto com o qual eu poderia ter finalizado o curso. Já me justifico: embora o ponto caiba aqui figurativamente, conscientizo-me do quase sacrilégio em reduzir o escritor a isso. Posso afirmar, então, que por mais candente, dolorido e cru que tenha sido O Ensaio, o belo Ensaio, para mim ele veio acompanhado do verde, mas um verde mais escuro: aquele dos que finalmente conheceram Saramago, mas que sabem que perderam por esperar.
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segunda-feira, 15 de junho de 2009

Porto

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Porto, minha Porto
Tuas luzes me acendem
Tuas águas me regam
Enraizo-me em ti.

Porto, ah, minha Porto!
Amo-te como se fosses minha
Percorro teu corpo
E me fazes assim
Tão como tu
Alegre.



Edna Hornes
15 de junho de 2009
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terça-feira, 9 de junho de 2009

Noite na Taverna

A UFGRS tem recantos privilegiados. Alguns oásis. Um deles é o setor onde estão os livros raros (COE), na BSCSH. O acesso a essa sala é restrito, mas se você solicitar com muito jeitinho a entrada ao plantonista, ele permite.

De vez em quando eu e alguns amigos passeamos pelos corredores, pelas prateleiras, tocando, folheando, acariciando aquelas riquezas, cujo cheiro, textura e capa são tão atraentes e prazerosos quanto o conteúdo. Tempos atrás, eu e o Daniel olhávamos alguns tomos de capa dura do século XIX, quando um livro atraiu a atenção pelo tamanho, sobressaindo-se dos demais. Como a capa era de papel, foi preciso cuidado para removê-lo dentre os outros. "Álvares de Azevedo - Noite na Taverna, Contos fantásticos, Macário", da editora Globo. Difícil ter encontrado algo melhor. A edição é ilustrada, data de 1952. A tiragem foi de 1.200 exemplares numerados e todos assinados pelo ilustrador João Fahrion. Fotografei as imagens. Aqui estão algumas delas:
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[Ilustração de João Fahrion - imagem: Edna Regina Hornes]

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[Ilustração de João Fahrion - imagem: Edna Regina Hornes]
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[Ilustração de João Fahrion - imagem: Edna Regina Hornes]
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[Ilustração de João Fahrion - imagem: Edna Regina Hornes]
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[Ilustração de João Fahrion - imagem: Edna Regina Hornes]
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Não sei quanto a você, mas eu nunca tinha ouvido falar do Fahrion, a não ser por uma sala com seu nome na Casa de Cultura Mário Quintana. Deixo, então, alguns dados, pelo menos pra não passar em branco (e para aguçar sua curiosidade): o portoalegrense João Fahrion nasceu em 1898; foi pintor, ilustrador, desenhista, professor de artes plásticas na UFRGS; estudou e se aperfeiçoou em vários países (dentre eles, Alemanha e Holanda), aos pés de mestres respeitados; faleceu em 1970.

Fahrion não é o único lá no COE. As prateleiras guardam outras muitas surpresas. Basta curiosidade, paciência e um certo tino pra garimpagem. Assim você encontra a primeira obra publicada no Brasil, um dicionário de português elaborado pelo português Antônio de Moraes Silva, em 1813. Conhece? Não? Então vá lá!
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sexta-feira, 5 de junho de 2009

Como elaborar um resumo de artigo


De tanto revisar artigos científicos, especialmente das áreas biomédicas, cheguei à conclusão (e não foi difícil) de que uma das maiores dificuldades dos autores é a de elaborar um resumo/abstract que efetivamente resuma a essência de sua pesquisa e que ao mesmo tempo atraia potenciais leitores.

Ciente desse obstáculo para a divulgação e propagação do conhecimento científico, trago aqui a grande solução para aqueles que precisam desesperadamente de um modelo que os auxilie. Não se preocupe: este modelo serve para qualquer área de conhecimento. Portanto, não receie em usá-lo em todas as situações. É muito fácil! Basta usar as sugestões dadas para preencher os espaços em branco. Use a criatividade! Você se transformará num famoso e bem-sucedido escritor de resumos.
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Os créditos vão para a PHD Comics. Para conhecer outras tiras, visite http://www.phdcomics.com/.
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quinta-feira, 28 de maio de 2009

Meninos, eu vi!

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Difícil descrever algo que não aconteceu, mas eu vi. A tarde estava ensolarada. A Andradas, movimentada. Sentei num banco, sozinha, no quarto andar do Centro Cultural CEEE Érico Veríssimo, sala O Retrato, cujas paredes estavam repletas de grandes fotografias em preto-e-branco retratando o cotidiano do Érico em casa, na rua, com a família.

Eu ouvia música naquele momento em que meus olhos se fixaram numa fotografia em especial, que mostrava a mesa de trabalho em primeiro plano, a máquina de escrever e outros objetos sobre a mesa e as estantes atulhadas de livros, ao fundo. O Érico estava em pé, olhando para um ponto qualquer não visível através da janela, à esquerda da fotografia. Parecia concentrado ou um tantinho distraído, o que dá na mesma. Pensando agora, acho até que ele estava com uma mão no bolso esquerdo. Aparentemente não percebeu que havia sido clicado.

Aquela música foi envolvendo o ambiente, imiscuía-se na imagem de forma que cheguei quase a pensar que havia um toca-discos na tal biblioteca e que o Érico também a estava ouvindo. Foi quando o vi sair de frente da janela e andar para um lado da biblioteca, devagar, pensativamente. Olhei de novo e ele tinha voltado para a janela, o espertinho.

É nessas horas que penso que se imagem diz tudo, imagine se os outros sentidos fossem estimulados, todos ao mesmo tempo. As imagens fariam tudo... sugeririam ações, conceitos, mensagens e ideias de uma forma muito mais intensa e dinâmica do que apenas como "meras" imagens.

Não lembro mais que música era a que, unida à imagem, sugestionou os passos pensativos do Érico. De qualquer forma, as que ouvi depois não produziram tal efeito alucinógeno, o que me fez concluir que se músicas específicas combinadas sinergicamente a fotografias específicas produzem uma terceira obra, não será tão cedo que vou ver o Érico passear de novo.

Não tem problema. Vou tentar de novo no MARGS, ali na pinacoteca APLUB. Quem sabe, com um pouco de sorte, uma borboleta saia voando de um Weingartner.
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segunda-feira, 25 de maio de 2009

Um dia eu chego lá

["Um dia eu chego lá" - imagem: Edna Regina Hornes]

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Quebra de rotina

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Chegou em casa. Cumprimentou a esposa, abriu a geladeira, pegou uma cerveja e deixou-se cair no sofá, em frente à televisão. Com o controle na mão, mudava constantemente de canal. Olhar ao léu. Preocupado, sentia-se estranho desde o último serviço. Os programas passavam por seus olhos distraídos, quando viu num noticiário policial o retrato falado de um assassino profissional. O coração bateu forte. E agora? O desenho não é bom, mas posso ser reconhecido.

Desde o último crime, sentia que não havia sido perfeito. Lembrou-se que havia sentado no chão, encostado à parede fria, mãos na cabeça, a olhar para a vítima ensanguentada. Parecia ter esquecido de um detalhe. E pensou no primeiro crime que cometera. Sabia que mesmo que em cada caso houvesse um inusitado requinte de crueldade, fazia tudo sempre igual. Era conhecido como Judas Iscariotes, por pendurar suas vítimas numa corda e abrir seu abdômen em forma de cruz, espalhando as vísceras pelo chão. Nunca se esquecia de pronunciar o viático sacramentum exeuntium, para a boa viagem de cada uma.

A televisão ainda ligada. Já pensava alto. Da cozinha, sua esposa pergunta:

- Sim, meu bem?
- Nada, não.

O entrevistador conversa com uma pessoa que diz saber quem é Judas, mas que não quer ser reconhecida. Ela está numa sala escura, de costas, e sua voz é distorcida. De olhos arregalados, Judas grita. A esposa vem em sua direção, mãos ensaboadas, perguntando o que havia acontecido.

- Foi você, sua cadela!
- O quê?!
- Eu reconheci o cabelo crespo e a blusa listrada!

Sem falar mais, vai à cozinha seguido da esposa embasbacada, que perguntava qual era o problema. Pega uma faca na gaveta, vira-se e a enfia no umbigo da esposa. Tapa a boca dela com a mão. Corte em cruz. Sobe para o quarto do filho. Algum tempo depois, a polícia chega com a vizinha de Judas, dizendo que havia ouvido ruídos estranhos na casa.

- É ele? pergunta o policial, apontando para um corpo inerte.
- Sim, é ele, responde a vizinha. Tinha cabelo crespo e usava blusa listrada.
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Moral da história: não compre na Renner.
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terça-feira, 28 de abril de 2009

João, o matemágico

Adoro o João. Admiro a capacidade que ele tinha de garimpar as palavras, desbastar seus poemas até tornar aquela estrutura absolutamente completa em si mesma mantendo apenas os elementos essenciais. Admiro sua concisão por ser, talvez, o oposto dele. Sou prolixa feito novelo sem ponta. Eu me definiria, inclusive, como adjetivágica. Basta olhar: sempre uso 3 adjetivos para qualificar algo... e não me pergunte por que faço isso.
Talvez por ser assim, eu justamente tenha escolhido a prosa como instrumento discursivo, pois para mim seria sufocante me expressar por poemas, embora os ame. Sou escrevedora do "flutual", fluviante, que boia na água do alguidar, confesso. Admiro o João também porque ele conseguia dizer o que queria através daquela estrutura engessante, apertadinha. Rolha de bom vinho. Arte concisa, estruturada, poesia substantiva, em que todo o excesso era removido e suprimido em nome do estritamente básico. Tire uma palavra e o arcabouço palavral é comprometido. É, bem-aventurado aquele que pelo poema faz toda essa mágica.
Meu consolo é que o próprio João se dizia pouco à vontade quando resolvia se arriscar na prosa, e pasme: quando o fazia, sentia "não ser ainda capaz de dizer o que quer e como quer", conforme afirmou Luís Costa Lima. Engraçado, pelo menos partilhamos dos mesmos sentimentos (ele na prosa e eu na poesia). Mas não me comparo assim a ele, não... na verdade, quanto aos meus feijões-palavra, se soprasse sobre eles para remover a palha e o eco... sobraria o quê? Intenção e não-dito. Felizmente, ainda sobram algumas pedras-mestras. E eu as ouço e as frequento.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Gerador de labirintos

Para passar o tempo que não passa, você pode gerar o seu próprio labirinto, como este abaixo, e tentar sair dele.




Use este link (http://www.xefer.com/maze-generator) para utilizar o software. Coisa de nerd, isso...

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Antibússola


["Relativity" - Maurits Cornelis Escher, 1953]
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domingo, 5 de abril de 2009

Kaki King - I never said I loved you

Bah, essa guria é demais mesmo. Pra mim, ela é tão boa quanto a Badi, mas com estilo e irreverência muito próprios, agradabilíssimos e semelhantes aos meus, exceto pelo fato de que eu não consigo fazer com meus vinte dedos o que ela faz com unzinho. E isso porque este vídeo não mostra tudo o que ela pode fazer, como em playing with pink noise, por exemplo, e em gay sons of lesbian mothers, em que ela toca "outros" instrumentos.


Curta!





De quebra, deixo aqui também a letra.



You're so beautiful, so strange, so lovely
That's the truth.
But if you were the one, baby, you'd've heard it by now.
But I never said I love you.

You are a dream-come-true for someone,
But not for me.
Still, can't we have fun, darling?
I can't say what I don't mean
You give me more than I can contain
It hurts to know the truth,
But this will never go your way
I never said I love you.

Sweet thing, come to me
Sweet thing, come to me
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quinta-feira, 2 de abril de 2009

Gilberto Freyre

[Tempo Morto e Outros Tempos, Gilberto Freyre - imagem: Edna Regina Hornes]

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Ilha do Mel

É, eu tinha que falar disso em algum momento. Principalmente em decorrência dos momentos que tenho vivido.

Por diversos motivos não citados aqui, tenho repensado, ad nauseam, minha vida, valores, ideais, objetivos. Alguém conhecido que passou pela mesma situação, anos atrás, usou uma ilustração muito interessante a respeito dessa reciclagem existencial por que havia passado, a qual reproduzo aqui. Para ele, sua vida assemelhava-se a um armário lotado de papéis de modo totalmente desorganizado. Houve um momento em que ele tomou coragem de reorganizar tudinhotudinho, "folha por folha". Sim, a coisa foi radical e profunda. Dolor, portanto. Pra começar, tirou tudo de lá de dentro da cabecinha dele. Reavaliava meticulosamente cada folha, remanejando-a para outra prateleira mental (creditando-a outro valor, peso ou interpretação), mantendo-a no mesmo lugar, ou, ainda, jogando-a fora. Incorporei à minha experiência corrente tal ilustração, que elucida muito bem o estado mental em que me encontro. Pois bem, estou reorganizando a papelada.

E como para organizar é preciso desorganizar, eis a baderna instalada no meu mundinho. Neste período, tenho me tornado mais contemplativa e silenciosa que o costumeiro, e, pra tais momentos, nada melhor que um cenário inspirador onde a beleza e a perfeição reinam, um lugar oposto à desordem do meu eu, para, de certa forma, ajudar a arrumar a zona interior de fora pra dentro. É aí que a ilha entra.

A perfeição abunda (e desbunda) em todos os recantos daquele lugar paradisíaco. Desde que estive lá, não consigo imaginar lugar mais perfeito, plácido e terapêutico que a Ilha do Mel. Confesso que quando a conheci, estava estressada ao limite, e o contraste entre minha vida e o ritmo da ilha trouxe uma paz imensa, da qual eu precisava há muito. Há quem diga, ainda, que eu poderia ter sido sugestionada pelas agradáveis companhias, pela quietude e isolamento (mesmo em alta temporada) do local, pela simplicidade e desapego dos nativos, pelos questionamentos que ronda(va)m minha mente, pelos quase 3 anos seguidos sem férias... enfim, por uma gama de fatores que, combinados, teriam me levado a amar a ilha. Tá, mas precisa de mais alguma coisa pra gostar de um lugar desses? Well, above all these things, a Ilha do Mel é a Ilha do Mel, pelamordedeus. Já foi pra lá?



[Praia do Miguel - Ilha do Mel, PR - Imagem: Edna Regina Hornes]

A vida da ilha foi uma paulada na minha cabeça. Eu, que sempre questionei os valores ocidentais de sucesso e felicidade enlatada, sempre admirei os bichos-grilo, a vida simples, estava (e estou), na verdade, sendo passiva e magistralmente englobada pela máquina e virando picles.

E quanto mais você reza, mais assombração aparece, conversei, há uns dias, com um grande amigo que hoje mora na Barra da Lagoa, Floripa. O cara, corajosamente, abandonou aquilo que a sociedade ocidental prega como vida de sucesso (emprego, faculdade, carreira, fazenda-com-vaquinha-premiada, blablablá) e jogou tudo pro alto. Hoje tem um charmoso chalé onde recebe turistas estrangeiros; passeia com os gringos pra lá e pra cá pelos recantos floripanos; cultiva um lindo jardim, cuida dos gatos e cachorro, recebe amigos com drinks descolados. Pô, também quero! Onde foi que eu me perdi que acabei parando aqui? E não é só isso. Tem também o meu amigo que me apresentou a ilha, amigo de décadasss. Trabalhou na AUDI Brasil/Alemanha, é trilíngue, viajadérrimo. No meio da estrada, sentiu um vento nordeste, largou o Mamom e foi viver. Optou pelo simples. Morou 1 ano na ilha, é instrutor de paragleider, voa pelo mundo todo, feliz e esvoaçante.

Aí é que a coisa engasga. Quais são os meus sonhos, desejos, valores reais e primários? O que considero realmente importante pra mim? Eu tenho buscado trilhar o meu caminho com vontades e objetivos claros ou acabei me desviando, me deixando levar pelas circunstâncias, pelas "oportunidades" apresentadas, portas que se abriram? O que eu tenho é o que eu quero? O que eu quero estou buscando? Um dia vou encontrar?

Ufa! Vamos parar aqui por hoje. Há ainda muito o que arrumar. Ah, mas o que ainda sinto e não esqueço é do gosto e do aroma do mel, mais forte e inebriante que o absinto, pois:

"... Assim como o favo de mel é doce na sua língua, assim também a sabedoria é boa para a sua alma. Se você a conseguir, terá um bom futuro e não perderá a esperança." (Provérbios 24:13-14)


Amém!


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segunda-feira, 30 de março de 2009

Ok, vamos aos porquês.

Um labirinto é instigante, alude a uma busca e um encontro. No entanto, para não correr o risco de perder-se, é preciso, primeiramente, saber que tipo de labirinto se está desafiando.

Conheço três tipos de labirintos (se você conhece outros, por favor, comente):

1) O labirinto grego, no qual há um único caminho até o centro. Os outros são meras ilusões, artimanhas, enganos. Este é o mais conhecido entre os labirintos:


Labirinto grego


2) O labirinto maneirista. Assemelha-se a uma árvore, com seus galhos/possíveis trajetos. Este é um labirinto aparentemente fácil de suplantar, mas eu advirto: é o mais enganoso entre todos, pois há muitas falsas saídas. Como numa obra não-aberta, a autora pretende dar (às vezes) uma única idéia a respeito de algo, mas o desatento leitor/pretendente/ouvinte imagina poder dar-se ao luxo de sair desavisadamente esgueirando-se pelos galhos, escolhendo aleatoriamente a saída ou interpretação que julgar mais adequada, que pode não ser a pretendida pela autora (no caso, eu):


Labirinto maneirista
"A árvore da vida" - Gustav Klimt

3) A rede ou rizoma é um labirinto em que todos os percursos se interligam. Não há centro nem periferia, mas um emaranhado de possibilidades:


Rede ou rizoma


Bem, que tipo de labirinto seriam, então, meus textos? A graça está em descobrir. Eles podem, sim, ser um puzzle “que conduza a toda parte e não leve a lugar algum”, nas palavras de Eco [Pendolo di Foucault, Bompiani, Milano, 1988-415.]. De qualquer forma e de fato, labirinto é, talvez e acima de tudo, desafio, figura simbólica que nos leva às profundezas de nós mesmos, em busca de uma reveladora experiência rumo a nossa própria natureza essencial. Exercício meu e seu nos caminhos destas palavras, logo. E este não é um labirinto qualquer, é um lambirinto. Lambirinte-se, portanto. E se porventura encontrar o caminho (seja a saída ou, ainda melhor, a entrada), encontrará fartas e gratas surpresas. Assim também espero eu. Só não se perca ao entrar no meu infinito particular!