terça-feira, 28 de abril de 2009

João, o matemágico

Adoro o João. Admiro a capacidade que ele tinha de garimpar as palavras, desbastar seus poemas até tornar aquela estrutura absolutamente completa em si mesma mantendo apenas os elementos essenciais. Admiro sua concisão por ser, talvez, o oposto dele. Sou prolixa feito novelo sem ponta. Eu me definiria, inclusive, como adjetivágica. Basta olhar: sempre uso 3 adjetivos para qualificar algo... e não me pergunte por que faço isso.
Talvez por ser assim, eu justamente tenha escolhido a prosa como instrumento discursivo, pois para mim seria sufocante me expressar por poemas, embora os ame. Sou escrevedora do "flutual", fluviante, que boia na água do alguidar, confesso. Admiro o João também porque ele conseguia dizer o que queria através daquela estrutura engessante, apertadinha. Rolha de bom vinho. Arte concisa, estruturada, poesia substantiva, em que todo o excesso era removido e suprimido em nome do estritamente básico. Tire uma palavra e o arcabouço palavral é comprometido. É, bem-aventurado aquele que pelo poema faz toda essa mágica.
Meu consolo é que o próprio João se dizia pouco à vontade quando resolvia se arriscar na prosa, e pasme: quando o fazia, sentia "não ser ainda capaz de dizer o que quer e como quer", conforme afirmou Luís Costa Lima. Engraçado, pelo menos partilhamos dos mesmos sentimentos (ele na prosa e eu na poesia). Mas não me comparo assim a ele, não... na verdade, quanto aos meus feijões-palavra, se soprasse sobre eles para remover a palha e o eco... sobraria o quê? Intenção e não-dito. Felizmente, ainda sobram algumas pedras-mestras. E eu as ouço e as frequento.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Gerador de labirintos

Para passar o tempo que não passa, você pode gerar o seu próprio labirinto, como este abaixo, e tentar sair dele.




Use este link (http://www.xefer.com/maze-generator) para utilizar o software. Coisa de nerd, isso...

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Antibússola


["Relativity" - Maurits Cornelis Escher, 1953]
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domingo, 5 de abril de 2009

Kaki King - I never said I loved you

Bah, essa guria é demais mesmo. Pra mim, ela é tão boa quanto a Badi, mas com estilo e irreverência muito próprios, agradabilíssimos e semelhantes aos meus, exceto pelo fato de que eu não consigo fazer com meus vinte dedos o que ela faz com unzinho. E isso porque este vídeo não mostra tudo o que ela pode fazer, como em playing with pink noise, por exemplo, e em gay sons of lesbian mothers, em que ela toca "outros" instrumentos.


Curta!





De quebra, deixo aqui também a letra.



You're so beautiful, so strange, so lovely
That's the truth.
But if you were the one, baby, you'd've heard it by now.
But I never said I love you.

You are a dream-come-true for someone,
But not for me.
Still, can't we have fun, darling?
I can't say what I don't mean
You give me more than I can contain
It hurts to know the truth,
But this will never go your way
I never said I love you.

Sweet thing, come to me
Sweet thing, come to me
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quinta-feira, 2 de abril de 2009

Gilberto Freyre

[Tempo Morto e Outros Tempos, Gilberto Freyre - imagem: Edna Regina Hornes]

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Ilha do Mel

É, eu tinha que falar disso em algum momento. Principalmente em decorrência dos momentos que tenho vivido.

Por diversos motivos não citados aqui, tenho repensado, ad nauseam, minha vida, valores, ideais, objetivos. Alguém conhecido que passou pela mesma situação, anos atrás, usou uma ilustração muito interessante a respeito dessa reciclagem existencial por que havia passado, a qual reproduzo aqui. Para ele, sua vida assemelhava-se a um armário lotado de papéis de modo totalmente desorganizado. Houve um momento em que ele tomou coragem de reorganizar tudinhotudinho, "folha por folha". Sim, a coisa foi radical e profunda. Dolor, portanto. Pra começar, tirou tudo de lá de dentro da cabecinha dele. Reavaliava meticulosamente cada folha, remanejando-a para outra prateleira mental (creditando-a outro valor, peso ou interpretação), mantendo-a no mesmo lugar, ou, ainda, jogando-a fora. Incorporei à minha experiência corrente tal ilustração, que elucida muito bem o estado mental em que me encontro. Pois bem, estou reorganizando a papelada.

E como para organizar é preciso desorganizar, eis a baderna instalada no meu mundinho. Neste período, tenho me tornado mais contemplativa e silenciosa que o costumeiro, e, pra tais momentos, nada melhor que um cenário inspirador onde a beleza e a perfeição reinam, um lugar oposto à desordem do meu eu, para, de certa forma, ajudar a arrumar a zona interior de fora pra dentro. É aí que a ilha entra.

A perfeição abunda (e desbunda) em todos os recantos daquele lugar paradisíaco. Desde que estive lá, não consigo imaginar lugar mais perfeito, plácido e terapêutico que a Ilha do Mel. Confesso que quando a conheci, estava estressada ao limite, e o contraste entre minha vida e o ritmo da ilha trouxe uma paz imensa, da qual eu precisava há muito. Há quem diga, ainda, que eu poderia ter sido sugestionada pelas agradáveis companhias, pela quietude e isolamento (mesmo em alta temporada) do local, pela simplicidade e desapego dos nativos, pelos questionamentos que ronda(va)m minha mente, pelos quase 3 anos seguidos sem férias... enfim, por uma gama de fatores que, combinados, teriam me levado a amar a ilha. Tá, mas precisa de mais alguma coisa pra gostar de um lugar desses? Well, above all these things, a Ilha do Mel é a Ilha do Mel, pelamordedeus. Já foi pra lá?



[Praia do Miguel - Ilha do Mel, PR - Imagem: Edna Regina Hornes]

A vida da ilha foi uma paulada na minha cabeça. Eu, que sempre questionei os valores ocidentais de sucesso e felicidade enlatada, sempre admirei os bichos-grilo, a vida simples, estava (e estou), na verdade, sendo passiva e magistralmente englobada pela máquina e virando picles.

E quanto mais você reza, mais assombração aparece, conversei, há uns dias, com um grande amigo que hoje mora na Barra da Lagoa, Floripa. O cara, corajosamente, abandonou aquilo que a sociedade ocidental prega como vida de sucesso (emprego, faculdade, carreira, fazenda-com-vaquinha-premiada, blablablá) e jogou tudo pro alto. Hoje tem um charmoso chalé onde recebe turistas estrangeiros; passeia com os gringos pra lá e pra cá pelos recantos floripanos; cultiva um lindo jardim, cuida dos gatos e cachorro, recebe amigos com drinks descolados. Pô, também quero! Onde foi que eu me perdi que acabei parando aqui? E não é só isso. Tem também o meu amigo que me apresentou a ilha, amigo de décadasss. Trabalhou na AUDI Brasil/Alemanha, é trilíngue, viajadérrimo. No meio da estrada, sentiu um vento nordeste, largou o Mamom e foi viver. Optou pelo simples. Morou 1 ano na ilha, é instrutor de paragleider, voa pelo mundo todo, feliz e esvoaçante.

Aí é que a coisa engasga. Quais são os meus sonhos, desejos, valores reais e primários? O que considero realmente importante pra mim? Eu tenho buscado trilhar o meu caminho com vontades e objetivos claros ou acabei me desviando, me deixando levar pelas circunstâncias, pelas "oportunidades" apresentadas, portas que se abriram? O que eu tenho é o que eu quero? O que eu quero estou buscando? Um dia vou encontrar?

Ufa! Vamos parar aqui por hoje. Há ainda muito o que arrumar. Ah, mas o que ainda sinto e não esqueço é do gosto e do aroma do mel, mais forte e inebriante que o absinto, pois:

"... Assim como o favo de mel é doce na sua língua, assim também a sabedoria é boa para a sua alma. Se você a conseguir, terá um bom futuro e não perderá a esperança." (Provérbios 24:13-14)


Amém!


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