terça-feira, 7 de julho de 2009

Prova de recuperação

Sempre achei que nos dias nublados o verde é mais verde. E como gosto de verde, gosto também dos dias nublados.
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Hoje o dia está especialmente cinza. Verde, logo. Esta manhã se preparou para compensar (e quem sabe para simbolizar) toda a noite insone a pensar em O Ensaio sobre a Cegueira e na minha própria... a cegueira da vida, a cegueira dos passos mal dados, a cegueira dos que põem tanto a perder. Bem, essa cegueira pouco tem a ver com a cegueira de O Ensaio, mas é fato que uma cegueira leva a outra ou, ao menos, torna-nos conscientes dela. De qualquer forma, o nubladinho choroso estava ali e me veio como a chuva cândida e santa, a consolar o choro chorando junto, e marcado com pinceladas daquele verde de que tanto gosto: o verde dos que esperam.
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A manhã se abriu assim tão especial porque o dia é especial: meu último dia de UFRGS, último compromisso como graduanda, última(?) visita ao olímpico Campus do Vale, minha última prova. E prova de recuperação! O nome não poderia ser mais adequado, porque finalmente fui apresentada ao Saramago, e isso não é coisa de que se recupere assim tão facilmente. Esse autor foi o melhor ponto com o qual eu poderia ter finalizado o curso. Já me justifico: embora o ponto caiba aqui figurativamente, conscientizo-me do quase sacrilégio em reduzir o escritor a isso. Posso afirmar, então, que por mais candente, dolorido e cru que tenha sido O Ensaio, o belo Ensaio, para mim ele veio acompanhado do verde, mas um verde mais escuro: aquele dos que finalmente conheceram Saramago, mas que sabem que perderam por esperar.
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