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Para Si
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Quando se apaixonava ouvia sons musicais. Róseos acordes bemóis. Mas não se dava conta disso. Quando o conheceu, o mundo ficou então mais colorido e sonoro, só que a vida dela deixou o pianíssimo de lado para alternar-se entre staccatos e quiálteras de um relacionamento um tanto conturbado. Se dependesse dela, tudo pra eles seria permeado pelo alegretto giocoso e romântico, enquanto que para ele a manutenção do namoro estava alicerçada num agregado sonoro bem intervalado e na liberdade do ad libidum dos intérpretes afetados. Aí começou o adágio dissonante e decrescente.
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Tempos depois, após o fim dessa pequena sinfonia a quatro mãos (e sem direito a bis), veio a prova de fogo. A noite era chuvosa. Ela estava entre amigos. Ele também. Encontraram-se por acaso, e, entre sushis e wasabi, o som que ela ouviu foi de desafino. Notas desconfortáveis e polifônicas, sem cadência, ensaio atonal de orquestra crescendo para um fortíssimo pulsante e furioso. Desse jeito, a noite tinha tudo pra terminar num melancólico noturno. Ali mesmo, no entanto, a música foi outra. Tudo porque ela havia resolvido seguir outros sons e experimentar um novo estilo. Partiu pro rock e pros solos de guitarra. Foi quando descobriu que não havia mais bemóis. Tinha se tornado Si Maior.
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E ele ficou lá... babando semicolcheias.
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