segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Continho em Si Maior

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Para Si
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Quando se apaixonava ouvia sons musicais. Róseos acordes bemóis. Mas não se dava conta disso. Quando o conheceu, o mundo ficou então mais colorido e sonoro, só que a vida dela deixou o pianíssimo de lado para alternar-se entre staccatos e quiálteras de um relacionamento um tanto conturbado. Se dependesse dela, tudo pra eles seria permeado pelo alegretto giocoso e romântico, enquanto que para ele a manutenção do namoro estava alicerçada num agregado sonoro bem intervalado e na liberdade do ad libidum dos intérpretes afetados. Aí começou o adágio dissonante e decrescente.
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Tempos depois, após o fim dessa pequena sinfonia a quatro mãos (e sem direito a bis), veio a prova de fogo. A noite era chuvosa. Ela estava entre amigos. Ele também. Encontraram-se por acaso, e, entre sushis e wasabi, o som que ela ouviu foi de desafino. Notas desconfortáveis e polifônicas, sem cadência, ensaio atonal de orquestra crescendo para um fortíssimo pulsante e furioso. Desse jeito, a noite tinha tudo pra terminar num melancólico noturno. Ali mesmo, no entanto, a música foi outra. Tudo porque ela havia resolvido seguir outros sons e experimentar um novo estilo. Partiu pro rock e pros solos de guitarra. Foi quando descobriu que não havia mais bemóis. Tinha se tornado Si Maior.
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E ele ficou lá... babando semicolcheias.
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Conheça uma outra versão desta história clicando aqui.

10 comentários:

  1. Bem...

    Depois dessa aula de música, eu penso: como eu queria poder tocar (esse) violão! Mas pelo que entendi, já está em outro dueto :( kkkkkkkkk

    Lindíssimo conto, amiga!

    Também gastaria de escrever assim...

    Brilhe muito!
    Beijos,
    Oseas

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  2. Bah, agora descobri que posso me identificar... hehehehe
    Só não entendi: pq o google me chamou de "Moderador 2009"?
    Oseas

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  3. nhaim, amei amei amei!
    gostei mais que do meu!
    =*

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  4. Adorei o título, mulher!
    Si Maior... óóó... que belezura, hein?!
    Muitos elogios... tenho sido muito bem descrita... huahuahauuha...

    Perfeito o continho! ;)

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  5. é um conto vivo - cheio de vida - e bem construído. passa uma verdade, não "a", mas "uma", atribuição do texto literário. até a dedicatória se integra. parabéns!
    bj

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  6. Bah! What a comment, man! Agora babei! Nem durmo hoje! :)))

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  7. Bah! What a comment, man! [2]

    O cara é bom, hein!

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  8. Edna, teu conto me lembrou um poema curto e clássico do mestre Leminski.

    "Acordei bemol
    Tudo estava sustenido
    Sol fazia
    Só não fazia sentido"

    Parabéns!
    José Antônio Silva

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  9. Obrigada, José!

    Pois sabe que eu sou da mesma terra que o Leminski?

    Abraço

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