quinta-feira, 28 de maio de 2009

Meninos, eu vi!

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Difícil descrever algo que não aconteceu, mas eu vi. A tarde estava ensolarada. A Andradas, movimentada. Sentei num banco, sozinha, no quarto andar do Centro Cultural CEEE Érico Veríssimo, sala O Retrato, cujas paredes estavam repletas de grandes fotografias em preto-e-branco retratando o cotidiano do Érico em casa, na rua, com a família.

Eu ouvia música naquele momento em que meus olhos se fixaram numa fotografia em especial, que mostrava a mesa de trabalho em primeiro plano, a máquina de escrever e outros objetos sobre a mesa e as estantes atulhadas de livros, ao fundo. O Érico estava em pé, olhando para um ponto qualquer não visível através da janela, à esquerda da fotografia. Parecia concentrado ou um tantinho distraído, o que dá na mesma. Pensando agora, acho até que ele estava com uma mão no bolso esquerdo. Aparentemente não percebeu que havia sido clicado.

Aquela música foi envolvendo o ambiente, imiscuía-se na imagem de forma que cheguei quase a pensar que havia um toca-discos na tal biblioteca e que o Érico também a estava ouvindo. Foi quando o vi sair de frente da janela e andar para um lado da biblioteca, devagar, pensativamente. Olhei de novo e ele tinha voltado para a janela, o espertinho.

É nessas horas que penso que se imagem diz tudo, imagine se os outros sentidos fossem estimulados, todos ao mesmo tempo. As imagens fariam tudo... sugeririam ações, conceitos, mensagens e ideias de uma forma muito mais intensa e dinâmica do que apenas como "meras" imagens.

Não lembro mais que música era a que, unida à imagem, sugestionou os passos pensativos do Érico. De qualquer forma, as que ouvi depois não produziram tal efeito alucinógeno, o que me fez concluir que se músicas específicas combinadas sinergicamente a fotografias específicas produzem uma terceira obra, não será tão cedo que vou ver o Érico passear de novo.

Não tem problema. Vou tentar de novo no MARGS, ali na pinacoteca APLUB. Quem sabe, com um pouco de sorte, uma borboleta saia voando de um Weingartner.
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4 comentários:

  1. Nossa, Edna, que legal esse teu texto!
    E é fantástico quando essas coisas acontecem. Essas coisas de a gente ver o que não há para ver... Para mim, se assemelha à sensação do déjà-vu, porque a gente acha que está se tornando superpoderoso, um iluminado, sei lá...
    Fantástico!

    Beijão.

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  2. Bom ouvir isso duma escrevedora como tu.

    E escrevedores são um pouquinho iluminados, sim. Mesmo que essa luz ilumine só os próprios pés.

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  3. amica,
    epifania pura, texto agradável de ler,
    não empolado, fluente.
    bjs e prbns

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  4. Sonhamos com todas as dimensões as vezes, mas a razão quer sempre nos segurar apenas em uma...lindo...

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