Sempre achei que nos dias nublados o verde é mais verde. E como gosto de verde, gosto também dos dias nublados.
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Hoje o dia está especialmente cinza. Verde, logo. Esta manhã se preparou para compensar (e quem sabe para simbolizar) toda a noite insone a pensar em O Ensaio sobre a Cegueira e na minha própria... a cegueira da vida, a cegueira dos passos mal dados, a cegueira dos que põem tanto a perder. Bem, essa cegueira pouco tem a ver com a cegueira de O Ensaio, mas é fato que uma cegueira leva a outra ou, ao menos, torna-nos conscientes dela. De qualquer forma, o nubladinho choroso estava ali e me veio como a chuva cândida e santa, a consolar o choro chorando junto, e marcado com pinceladas daquele verde de que tanto gosto: o verde dos que esperam.
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A manhã se abriu assim tão especial porque o dia é especial: meu último dia de UFRGS, último compromisso como graduanda, última(?) visita ao olímpico Campus do Vale, minha última prova. E prova de recuperação! O nome não poderia ser mais adequado, porque finalmente fui apresentada ao Saramago, e isso não é coisa de que se recupere assim tão facilmente. Esse autor foi o melhor ponto com o qual eu poderia ter finalizado o curso. Já me justifico: embora o ponto caiba aqui figurativamente, conscientizo-me do quase sacrilégio em reduzir o escritor a isso. Posso afirmar, então, que por mais candente, dolorido e cru que tenha sido O Ensaio, o belo Ensaio, para mim ele veio acompanhado do verde, mas um verde mais escuro: aquele dos que finalmente conheceram Saramago, mas que sabem que perderam por esperar.
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Verde esperança é o que há!!
ResponderExcluirTu tá parecendo meio triste, Edna... espero que melhore.
Não li a obra, mas vi o filme "Ensaio sobre a cegueira". Fiquei chocada com algumas cenas, mas um excelente filme, eu diria.
E sempre que vejo algum tipo de vegetação em um dia nublado, lembro de ti. E chego a concordar contigo. Não que eu goste de dias cinzentos e chorosos, mas o verde realmente fica mais verde... e nos dá esperança. Hoje, particularmente, estou feliz por não precisar sair de casa com essa chuva. Vou ficar olhando o verde (e o cinza) da minha janela!
Beijo.
Devo concordar, e por gostar tanto, não há igual ao cinza, que torna o verde tão verde e belo, quase consigo ver as arvores e flores sorrirem em agradecimento a um cinza umido e suave.
ResponderExcluirQue seus Ensaios, sentidos, vividos sejam sempre tão maravilhosos quanto ao de Saramago.
nossa, quanto enigma... fato: amo o cinza, amo o verde tb.
ResponderExcluirli o que tu esreveste mais de uma vez, e prefiro emudecer. li tb o Saramago. ainda não sei o que dizer.
vou dizer então que tô feliz que tu vai lá me ver. viu, vais ao campus de novo (=
Treze maneiras de olhar para um melro
ResponderExcluirI
Em vinte montanhas nevadas
Só uma coisa se movia:
O olho do melro.
V
Não sei se prefiro
A beleza das inflexões
Ou a das insinuações,
O assovio do melro
Ou o instante depois.
XII
O rio está correndo.
O melro deve estar voando.
Wallace Stevens (1879-1955), EUA.
Bem... é dificil comentar quando não se tem esse dom poético contido no teu texto.
ResponderExcluirConcordo com a Siane, me pareceste um pouco triste amiga. Espero que superes o que está te 'acinzentando' o ânimo; que o verde (claro ou escuro) mantenha em ti a esperança e dom de escrever bem!
P.S.: Deves mudar o teu perfil aí ao lado. Não és mais uma 'graduanda', e sim uma GRADUADA!
Parabens, amiga!
Já és a minha escritora preferida.
Oseas
Ótimo como sempre Edna...quanto a cegueira, o que mais teve significado para mim, foi como independente de vermos somo cegos por dentro, pois mesmo quando todos estavam em uma mesma situação, o "não-enxergar", os vícios e as virtudes se manisfestaram rapidamente após a adaptção...somos cegos no coração.
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