quarta-feira, 1 de abril de 2009

Ilha do Mel

É, eu tinha que falar disso em algum momento. Principalmente em decorrência dos momentos que tenho vivido.

Por diversos motivos não citados aqui, tenho repensado, ad nauseam, minha vida, valores, ideais, objetivos. Alguém conhecido que passou pela mesma situação, anos atrás, usou uma ilustração muito interessante a respeito dessa reciclagem existencial por que havia passado, a qual reproduzo aqui. Para ele, sua vida assemelhava-se a um armário lotado de papéis de modo totalmente desorganizado. Houve um momento em que ele tomou coragem de reorganizar tudinhotudinho, "folha por folha". Sim, a coisa foi radical e profunda. Dolor, portanto. Pra começar, tirou tudo de lá de dentro da cabecinha dele. Reavaliava meticulosamente cada folha, remanejando-a para outra prateleira mental (creditando-a outro valor, peso ou interpretação), mantendo-a no mesmo lugar, ou, ainda, jogando-a fora. Incorporei à minha experiência corrente tal ilustração, que elucida muito bem o estado mental em que me encontro. Pois bem, estou reorganizando a papelada.

E como para organizar é preciso desorganizar, eis a baderna instalada no meu mundinho. Neste período, tenho me tornado mais contemplativa e silenciosa que o costumeiro, e, pra tais momentos, nada melhor que um cenário inspirador onde a beleza e a perfeição reinam, um lugar oposto à desordem do meu eu, para, de certa forma, ajudar a arrumar a zona interior de fora pra dentro. É aí que a ilha entra.

A perfeição abunda (e desbunda) em todos os recantos daquele lugar paradisíaco. Desde que estive lá, não consigo imaginar lugar mais perfeito, plácido e terapêutico que a Ilha do Mel. Confesso que quando a conheci, estava estressada ao limite, e o contraste entre minha vida e o ritmo da ilha trouxe uma paz imensa, da qual eu precisava há muito. Há quem diga, ainda, que eu poderia ter sido sugestionada pelas agradáveis companhias, pela quietude e isolamento (mesmo em alta temporada) do local, pela simplicidade e desapego dos nativos, pelos questionamentos que ronda(va)m minha mente, pelos quase 3 anos seguidos sem férias... enfim, por uma gama de fatores que, combinados, teriam me levado a amar a ilha. Tá, mas precisa de mais alguma coisa pra gostar de um lugar desses? Well, above all these things, a Ilha do Mel é a Ilha do Mel, pelamordedeus. Já foi pra lá?



[Praia do Miguel - Ilha do Mel, PR - Imagem: Edna Regina Hornes]

A vida da ilha foi uma paulada na minha cabeça. Eu, que sempre questionei os valores ocidentais de sucesso e felicidade enlatada, sempre admirei os bichos-grilo, a vida simples, estava (e estou), na verdade, sendo passiva e magistralmente englobada pela máquina e virando picles.

E quanto mais você reza, mais assombração aparece, conversei, há uns dias, com um grande amigo que hoje mora na Barra da Lagoa, Floripa. O cara, corajosamente, abandonou aquilo que a sociedade ocidental prega como vida de sucesso (emprego, faculdade, carreira, fazenda-com-vaquinha-premiada, blablablá) e jogou tudo pro alto. Hoje tem um charmoso chalé onde recebe turistas estrangeiros; passeia com os gringos pra lá e pra cá pelos recantos floripanos; cultiva um lindo jardim, cuida dos gatos e cachorro, recebe amigos com drinks descolados. Pô, também quero! Onde foi que eu me perdi que acabei parando aqui? E não é só isso. Tem também o meu amigo que me apresentou a ilha, amigo de décadasss. Trabalhou na AUDI Brasil/Alemanha, é trilíngue, viajadérrimo. No meio da estrada, sentiu um vento nordeste, largou o Mamom e foi viver. Optou pelo simples. Morou 1 ano na ilha, é instrutor de paragleider, voa pelo mundo todo, feliz e esvoaçante.

Aí é que a coisa engasga. Quais são os meus sonhos, desejos, valores reais e primários? O que considero realmente importante pra mim? Eu tenho buscado trilhar o meu caminho com vontades e objetivos claros ou acabei me desviando, me deixando levar pelas circunstâncias, pelas "oportunidades" apresentadas, portas que se abriram? O que eu tenho é o que eu quero? O que eu quero estou buscando? Um dia vou encontrar?

Ufa! Vamos parar aqui por hoje. Há ainda muito o que arrumar. Ah, mas o que ainda sinto e não esqueço é do gosto e do aroma do mel, mais forte e inebriante que o absinto, pois:

"... Assim como o favo de mel é doce na sua língua, assim também a sabedoria é boa para a sua alma. Se você a conseguir, terá um bom futuro e não perderá a esperança." (Provérbios 24:13-14)


Amém!


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7 comentários:

  1. Divulga logo isso aí, Edna. Provérbios me lembrou o mel de Cântico dos Cânticos. A-do-rei o nome do blog, poesia pura,sem tirar nem pôr. Abs e bjs

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  2. Consegues adoçar e enternecer a quem lê teu texto, teus poemas. Gostei, moça. Mas não encontres a saída deste labirinto. Pense em Alberto Caeiro: não queira encontrar sentido algum em nada. A vida é isto. A vida é (im)pulso.

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  3. Realmente, Bob pai e Bob filho, sendo que um escreve e o outro não heheheh... me assusto contigo, guria!

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  4. Amazing,,,para este mesmo propósito farei uma viagem a pé...passado um pouco da hora,,é tempo de fazer minha reciclagem...


    Jean Sandrini

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  5. Bah, Jean,

    Quando for, me chama. Um brinde à reciclagem.

    Beijo!

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  6. Oi!! Obrigada pela visita e pelo elogio ao blog. É sempre bom saber que as pessoas gostam e se identificam com o nosso gosto.

    Ah, ja fui pra ilha do mel e realmente é um lugar liiiindo. Da primeira vez que fui depois das 23:00 não tinha mais luz na ilha, as festas eram todas a luz de velas e andavamos pela ilha de lanterna. O clima era incrível. Ja da segunda vez que fui não tinha mais essa história de cortarem a luz... perdeu um pouco do charme mas continua maravilhosa!

    Bjos

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  7. Oi a coisa de dois anos meu marido me presenteou com a viagem até a ilha do mel, e realmente aquele lugar ti transforma. E põe em xeque a vida corrida que levamos e nos faz pensar se isso tudo aqui vale a pena. Depois da viagem voltei diferente, pensando sempre que a felicidade está nas coisas simples ligadas a natureza que Deus nos proporciona. bjs

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